sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sonho

E o sol entrou pela janela, espantando a escuridão que havia no quarto sem fim.
Ainda meio sonolenta, levantei-me, sentei a beira da cama abraçando o travesseiro frio. Caminhei até encontrar o espelho que no meu quarto encontrava-se, e nele vi meu reflexo e toquei cada linha expressiva que havia no meu rosto.
Nunca costumei acordar neste horário, há muito tempo, encontrava-me com abstinência de sono, então quando conseguia dormir já havia amanhecido o dia e eu acordava  no final da tarde. Perdi os últimos meses deste ano assim, não vi acontecimentos importantes, não encontrei amigos falsos que sorriam ao me ver, não vivi, mas não me importei, já estava satisfeita com aquilo que eu possuía, com aquele travesseiro frio... Com as linhas expressivas dos vários acontecimentos estressantes desses 19 anos.
Vesti uma roupa, escovei os dentes para abrilhantar esse sorriso trágico que venho mantendo, e, penteei meu cabelo apenas por questão de luxo, sem vaidade, sem nada.
Coloquei minhas tralhas na mochila, meu livro preferido, meus fones, uma caneta, um caderno e uma blusa de frio... Somente isso era-me útil, parei embaixo de uma árvore da cidade, um pouco distante da população, com uma vista para o lago sujo. Encaixei os fones ao ouvido, peguei o caderno e a caneta e comecei a escrever meus desabafos. Quanto mais tentava encontrar motivos para escrever, mais eu me perdia nos parágrafos, quanto mais tentava encontrar uma trilha sonora para ter uma inspiração, mais eu me afundava, mais eu chorava... Sem entender o porque de não conseguir escrever o que há muito tempo eu tinha guardado engasgado em mim.
Vi uma sombra chegando ao lugar que eu estava. Um rapaz que aparentava ter minha idade, ou, dois anos a mais, não sei ao certo...
Sentou-se com sua mochila embaixo de outra árvore, tirou um caderno e uma caneta e encaixou seus fones ao ouvido...
Depois de um tempo, percebi que ele chorava e arrancava as folhas do caderno toda vez que começava a escrever...
Por um momento ele me olhou com os olhos vermelhos, e disse:
- Vi que você também escreve, e vi que você também chora ao lembrar do que lhe faz mal. Não viva assim, sem rumo, sem porque, sem viver... Não diga as coisas que te fazem mal em um pedaço de papel sujo, grite ao vento, grite para o mundo e sorria como se fosse feliz, como se tivesse tudo, ame e sofra até morrer...
Meio que sem entender, quando pisquei os olhos, eu estava em meu quarto, havia um quadro em cima da penteadeira com uma foto onde eu abraçava um rapaz... Ao olhar mais perto, lágrimas caíram dos meus olhos, pois, era o mesmo rapaz que eu havia visto em meu sonho, ou alucinação, não sei... Fechei os olhos e os abri novamente, de repente já não havia quarto, era tudo branco, minha roupa era branca e uma mulher entrou por uma porta quase invisível...
Perguntei onde eu estava e ela perguntou se eu não me lembrava...
Ela disse que em um dia de  fúria, discuti com um rapaz, e ele não aceitava a nossa separação... Ele tomou vários remédios e acabou pegando em um sono profundo e não acordou até perder seus batimentos cardíacos...
Desde então, eu comecei a vê-lo debaixo de uma árvore que ficava perto de um lago onde havia um sitio da família... Meus pais, preocupados comigo, internaram-me lá naquele lugar branco...
Cai ao chão, chorando, lembrando-me de tudo que havia acontecido, então dormi e senti lábios frios tocando meu rosto...
Abri os olhos e ele estava lá, pegou minha mão deixando meu corpo frio, morto, ao chão e me levou debaixo daquela mesma árvore do meu sonho...
Então ele sorriu e disse:
"Você nasceu para ser espinho e eu cicatriz"

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